sexta-feira, 15 de abril de 2011


Tudo estava escuro, era uma espécie de shopping abandonado, mas, para minha surpresa, ele não estava tão abandonado assim. Éramos cinco, um pequeno grupo com inúmeros defeitos e uma única vontade em comum: continuar vivos. Como fomos parar justamente ali, com tanto lugar no mundo para se esconder? Em meio à escuridão descobrimos sombras famintas por sangue, carne, ossos. Nada seria desperdiçado na boca daquelas feras. Um som quase surdo deu inicio ao ataque. Graças a um dos nossos, ficamos de sobreaviso e isso foi o que nos salvou, pelo menos a princípio. Mas o que era aquilo que atacava sem medo? Em breve eu descobriria. Uma das feras sedenta por comida veio ao meu encontro e nesse momento eu não tinha mais dúvidas de que o lanche era eu. Vi em seus olhos a vontade de saciar um desejo, o desejo primário que rege qualquer ser, humano ou não, a necessidade mais básica e primitiva: a fome. Mas por que justamente eu tinha que ser o lanchinho daquele bicho? Ele não poderia simplesmente se alimentar de maçãs? Entretanto, se eu não corresse o mais rápido que conseguisse, provavelmente não sairia dali com vida. Corremos como uma presa que luta incansavelmente pela vida e, por vários momentos, achamos que não iríamos conseguir. Por fim, chegamos a uma escada, que levava para liberdade, pensávamos nós. À medida que descíamos os degraus ouvíamos o som de uma garoa fina e um barulho que parecia uma multidão, algo que nós nem sequer sonhávamos o que poderia ser. Chegamos enfim à liberdade, deixamos a fera para trás, mas, ao sairmos do shopping, vimos uma verdadeira multidão vinda de encontro a ele. De início não entendemos bem o que aquilo significava até olharmos para os rostos transfigurados, as pessoas queimando. Aquela garoa fina que inicialmente achávamos que iria lavar as nossas almas era na verdade um tipo de chuva ácida e o único abrigo naquele momento era a toca das feras.

Um comentário:

  1. Já parou pra pensar como é internalizado em você essa constante de provar e aprovar o seu lugar no mundo e de fazer por merecer a liberdade e a vida que tem?

    Um dia alguém devia te usar como estudo para escrever um livro. Conte-me mais...

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