terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Vazios enlatados


Mais uma vez, apelei para o verde, por dentro e por fora, mas, às vezes, a vida joga contra e aquele buraco, aquele vazio que, infelizmente, não pode ser preenchido com gim, reaparece... Às vezes acho que ele nunca sumiu de verdade, só se esconde de quando em vez, esperando o melhor momento para voltar a apertar. Muitas bolas fora, muitas cartas sem baralho e eu no meio disso tudo com um coringa na mão sem saber o que fazer. Deveria ser fácil... 
E eu continuo respirando em meio às trincheiras da minha cabeça. Tudo parece tão claro e breve e eu sequer consigo tocar... É isso. Tem tanto tempo que eu não toco nada de verdade, tem tanto tempo que nada me toca de verdade. 
Migalhas de prazeres enlatados, de dias mal dormidos, de palavras não ditas... Nunca ditas. E, por fim, volto a isso que chamam de sanidade, de lucidez. 
Guardo todos os meus fantasmas num pote de Hellmann's e finjo que está tudo bem. Como sempre esteve. E continuamos fingindo, você, a sua paz, sem deixar ninguém chegar perto, eu, a minha loucura, sem que ninguém queira chegar perto. Ambos intocados, ambos intocáveis, ambos vazios e escuros, sem que ninguém chegue perto.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Memórias


Pensando na véia, botei Alcione, passei por Bethânia e Gonzaguinha, acabou surgindo do nada, deu aquele aperto no peito... Lembrei das nossas conversas, das nossas noites insones na frente da TV, com aquele cafuné displicente. 
Pensei em todas as coisas que eu gostaria de ter dito e, por displicência, acabei por não dizer; pensei que, por displicência, aquele cafuné sempre estaria ali, displicentemente. Aquela mão quase involuntária, mas que sempre soube chegar na hora exata, precisa, sempre um segundo antes do desespero, um segundo antes de tudo desmoronar. As unhas impecáveis, o cabelo arrumado e a eterna certeza de que: "Se há jeito para tudo nessa vida, exceto para morte". 
De ti ficou o bom gosto para tudo que há de bom, a vontade de viver, a certeza de que as coisas sempre podem piorar, portanto, é melhor fazer por onde. E a inegável necessidade de se lutar por aquilo que se quer de verdade, mesmo que você não saiba direito o que é isso. 
De ti ficaram as conversas francas, as birras, o cheiro de feijoada, a inesquecível moqueca de arraia, o som alto na vitrola, a cerveja gelada no domingo, a vontade de conhecer tudo que tiver ao meu alcance e esticar o braço um pouquinho mais para tentar abraçar o mundo e, se, por ventura, não conseguir, não tem problema, sempre se pode tentar de novo. 
Algumas noites insones serão sempre mais difíceis... Aquele displicente cafuné já não está mais lá, não há mais necessidade de se provar quem está certo. Todos nós estivemos redondamente enganados por todo o tempo. Não, não poderemos ser felizes juntos, não aqui, não agora, não nessa vida... 
Juntos jogamos contra! 
Esse Happy Ending do sonho americano está longe, muito longe de ser a nossa verdade. Não, na sua verdade você teve o seu Happy Ending, não o dos filmes, mas o real, o que fazia cada dia ser de alguma forma um pouco "menos pior". Que fez com que tudo à sua volta fosse tão inesquecível. Não, não estamos falando de perfeição. Estamos sem sombra de dúvida falando de coragem, da coragem de alguém que nunca teve medo de se expor, que nunca fingiu ser quem não era. Alguém que acabou por abandonar as máscaras, mesmo que isso significasse usar a mesma todos os dias. 
Estamos falando de alguém que sobretudo continuou. Continuou, contra tudo e contra todos. Alguém que não teve medo de encarar a vida de frente, olhar nos olhos do furacão e ir preparar o almoço, porque, acima de tudo, as pessoas precisam comer. 
Não, nem todas as lembranças são azuis e felizes, porque nem tudo é azul e feliz, mas uma imagem de tudo acaba por se fazer muito clara: a imagem de uma guerreira que fez a todo momento o que foi preciso ser feito. 
Agora, me perco entre os vinis, entre os inúmeros sons da minha memória. Consigo facilmente passear de Stravinsky a Roberto Carlos sem grandes percalços. Por fim, chegamos a mais um começo, só que, agora, sem displicências, sem falsas sensações de eternidade, de constante. Só nos resta o momento que acabou de passar. 


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Continue respirando... Só continue respirando...
O ar vai começar a faltar, aos poucos sua vista vai ficar turva e você vai descobrir que tudo aquilo que te contaram sobre luz, túnel e flashs não passaram de histórias infantis. 
Mas tente, você sempre foi bom nisso, tentar... Tentar, tentar e morrer na praia. Agora vai ser literal, exceto pela praia.
Não precisa alardear, ninguém vai ouvir, poupe seus esforços para a única ação que pode fazer alguma diferença. 
Continue respirando... 
 

Suspensão...


Aquele dia eu pus o pé na estrada e continuei andando, naquele dia eu não olhei para trás.Nada mais importava, todas as expectativas, todos os momentos, todas as dores, todas as angustias... tudo, tudo misturado.


Como se não fosse nada, como se fosse só uma virgula, um momento, aquele caminho que continuou a partir dali, aquele caminho que finalmente começou... Engraçado perceber como era fácil. Como sempre foi fácil. Agora de frente para uma estrada sem grandes curvas e sem ser uma linha reta também. Eu continuo andando... Agora eu não tenho  mais medo, agora eu perdi o medo de caminhar, perdi o medo de correr. Agora, eu perdi o medo de se por acaso eu encontrar um espelho no meio do caminho e ter que me encarar de frente. Porque o agora é o único momento que importa. Eu vim correndo todo esse tempo desesperada, desenfreada, correndo como se soubesse para onde eu ia, mas eu não sabia. Eu vim procurando algo que não estava dentro de mim, eu vim procurando algo que eu só saberia quando eu encontrasse... E finalmente eu encontrei, eu me encontrei, eu encontrei um lugar, eu encontrei um porquê. Eu encontrei tudo aquilo que eu vinha perdendo sem sequer saber que eu tinha. Engraçado olhar para tudo isso e ver o quanto as coisas podem ser fáceis e simples. E fácil e simples não significa que vai dar certo, fácil e simples significa que a gente vai ter que arriscar sim,  e que pode doer que vai ser difícil que talvez a gente caia, mas a vida é assim. Que são esses momentos e são essas curvas essas quedas essas pequenas e grandes feridas que fazem todo o resto valer a pena... E tem valido.Cada respiração, cada sentimento, cada dor tem valido a pena porque agora eu sei que eu estou fazendo por mim. Porque agora não importa o que eu faça eu não estou apenas caminhando... finalmente eu estou seguindo.