sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Abri mão do verde, ele acabou por não ajudar em nada... Simbolismos, simbolismos. Acabei por encarar o preto de frente bem nos olhos e nas unhas. Quem quiser que diga que é luto. Talvez seja... Por que não? Um luto bem servido, com enterro, missa, lágrimas e esquecimento (esse pode até tardar, mas nunca falta). Tudo como de praxe, sem muita cerimônia, só aquela certeza pura e simples de que acabou. Como tudo acaba, as plantas, os bichos, as pessoas e os sentimentos, cada um ao seu modo. É verdade, todos acabam, ou se transformam. Talvez seja isso que nos mantenha vivos, a certeza de que as coisas se transformam, sem saber exatamente em quê, nem quando, nem onde. E elas vão mudando, tornando-se ora melhores, ora piores e se alternando mutuamente.
Estamos todos na beira de alguma coisa, não o abismo clichê, mas todo mundo está na beirada, buscando algo novo, um sentimento novo, uma pessoa nova. Eu gosto das coisas velhas, sempre gostei, sempre fui meio velhinha, acordando cedo, sentindo cheirinho de café no fogo, cumprindo sempre os mesmos hábitos, saudáveis ou não, mas sempre os mesmos. Talvez por gostar tanto de manter os velhos hábitos é que as coisas sejam tão inconstantes pra mim e paradoxalmente eu seja tão volúvel. Mudando de ares, pessoas e sentimentos como quem troca a cor das unhas. Ontem verde-esperança, hoje preto-luto e amanhã, quem sabe, acho alguma mais feliz, um pink ou um anil. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Arrumei a casa, lavei a louça bati um bolo. Preenchi o meu tempo e a dor não passou. Percebi que o que faltava preencher era espaço e não tempo.  Esse é mais complicado, mais de-li-ca-do como uma boneca de porcelana, que, ao se quebrar, por mais que se emende, sempre ficarão cicatrizes. Queria uma cicatriz agora, queria um sentido, algo que valesse a pena, algo no que acreditar, mas tudo perdeu o sentido, se sentido houve algum dia. Continuar se tornou uma palavra vazia e por mais sinônimos que eu invente não consigo trazê-la de volta.
Vou falando, repetindo, criando vícios, lavo, passo, limpo, faço as unhas o cabelo e tudo continua igual. Tento ler um livro, assistir a um filme, rir alto de qualquer coisa, mas tudo continua igual. Os truques antigos que antes eram tão eficazes já não têm significado nenhum. Os versos que antes tanto me distraiam, hoje são palavras cada vez mais vazias. Pintei as unhas de verde (esperança, pensei), vai ver representa alguma coisa. E no meio do turbilhão também conhecido como o olho do furacão, tudo para. A vida para e, no silêncio, tento escutar a lembrança de quem eu fui um dia. Ideais, causas, motivos para lutar por algo maior, mas o sentido se perdeu com o tempo e, pragmática e positiva continuo andando, com as unhas pintadas de verde na esperança de ter esperança de novo algum dia, se é que algum dia houve. 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Rubra? Porque não?!
Assim, sem querer, te tornei especial, sim, eu te tornei. Pois, somos nós que tornamos o outro. Vemos no outro aquilo que queremos ver. Te vi assim, especial. Quis voltar atrás, tornar as coisas menos belas e menos fortes, mas já era tarde. Aquilo, que antes parecia indecifrável, tomou tanto espaço que se tornou inaprisionável e, saindo de um extremo a outro, me atordoou. Parei no meio da estrada, sem bússola, sem mapa, sem norte... Apenas com um reflexo do que eu imagino que seja isso, que não tem nome, mas ocupa tanto espaço que, em meio ao sentido absoluto, não faz sentido algum. Imersa nesse caleidoscópio de informações desencontradas, vejo aquele papel amarelado e me lembro das cartas que pensei em escrever. Mas não se escreve mais cartas... Mesmo assim, olhando para aquele papel amarelado, lembro daquele pôr-do-sol, em algum lugar lá atrás ou lá na frente, não sei ao certo, mas aquele pôr-do-sol onde os olhos voltaram a ver e, quem sabe, tudo voltaria a ser belo novamente, ou voltará... Mas não dá mais tempo e tenho novamente que esperar, esperar por você, por mim, pelo encontro ou, simplesmente, pela espera. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

De repente, meio sem querer, enquanto você dormia, ele voltou... Sempre forte e inusitado. Não sei se é sadismo querer que ele continue... Não consigo abrir mão. Sei que não te faz bem, sei que não me faz bem, mas, como desistir dele, também não sei.  Queria te ver assim, forte e livre e ter certeza que sempre vai ser assim. Ele volta pra me dizer que não, que as coisas nem sempre serão assim, que nem sempre seremos livres e fortes. E que, ao fraquejar, seremos ainda mais presos e ainda mais tristes. Você quis ir, não entendi como era possível, então você disse que continuaria, sem atrasos, sem me atrasar. Mas por que sempre o tempo? “O tempo é relativo”, todo mundo diz, porém, na prática, tudo gira em torno dele. Eu espero, disse sem medo, mas não, ele já tinha ido apressado sem me dar escolha, e nessa hora o tempo só ajudou a doer mais, a ficar mais triste e mais duro. Só queria ter podido escolher, afinal, era um direito meu que me foi usurpado. Lembro-me de você sorrindo e, mesmo de longe, consigo ver. Não sei se você se lembra do meu, mas, definitivamente, você não pode mais ver.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Como algo pode ser mais real que a realidade? Perguntei-me isso enquanto desciam lágrimas vertiginosas pela minha face. No início fiquei meio desconcertada, me senti te invadindo, depois, perdi o controle, precisava saber mais, ver mais, viver mais. Eu sei, o sonho não era meu. Mas como controlar algo que me invadiu sem pedir licença? Quando percebi já estava sonhando com você.  Algo sem controle, mas repleto de sentidos, uma realidade avessa, triste, mas uma realidade viva e, acima de tudo, intensa. Corpos que se tocam sem se ver, cicatrizes, lembranças... E um achado. Está tão difícil achar hoje em dia... Uma causa, uma promessa, uma força... Qualquer coisa no que se apoiar, qualquer coisa pela qual valha a pena viver, qualquer coisa pela qual valha a pena morrer. Eu achei.  Ela me sorriu, apertando seus olhinhos azuis. E foi a última vez que eu enxerguei seus belos olhos azuis. Eu achei.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Penteadeira, batom púrpura, luz flamejante e a incrível sensação de se ver.
Enxergar o passado, o presente e rememorar cada segundo de existência numa fração de tempo menor que o pensamento.
Passar o batom, o pó, colocar a ruga falsa e a falsidade do corpo e, a todo o momento, ter consciência plena de estar apenas representando.
Ela se via e se ouvia, antes mesmo do público notar a sua existência. Luz rubra, quarto escuro, pele envelhecida, mãos macias e enrugadas pelo tempo que, pouco a pouco foi deixando de passar.
Suor? Lágrimas? Desejo?
Apenas a força de um indivíduo que luta, luta e continua se vendo, correndo entre a infância e a juventude. Faces da mesma moeda?
Luz incandescente se acende, porta se abre e ela continua esperando a entrada do infinito, do vazio. Luz se apaga, novamente ela se olha no espelho e diagnostica sua doença sangrenta, inalcançável e repetidamente tediosa. Havia envelhecido. 
Levanta bruscamente, dança um tango com um parceiro imaginário, finaliza sua grandiosa performance, agradece ao público.
Ausenta-se.
O palco livre representa aquilo que ela sempre desejou ser: apenas uma luz no meio do caminho que leva a lugar nenhum.
Sombras entrecortadas de luxo e uma imensa tela de cinema que aos poucos vai se apagando.

sexta-feira, 15 de abril de 2011


Tudo estava escuro, era uma espécie de shopping abandonado, mas, para minha surpresa, ele não estava tão abandonado assim. Éramos cinco, um pequeno grupo com inúmeros defeitos e uma única vontade em comum: continuar vivos. Como fomos parar justamente ali, com tanto lugar no mundo para se esconder? Em meio à escuridão descobrimos sombras famintas por sangue, carne, ossos. Nada seria desperdiçado na boca daquelas feras. Um som quase surdo deu inicio ao ataque. Graças a um dos nossos, ficamos de sobreaviso e isso foi o que nos salvou, pelo menos a princípio. Mas o que era aquilo que atacava sem medo? Em breve eu descobriria. Uma das feras sedenta por comida veio ao meu encontro e nesse momento eu não tinha mais dúvidas de que o lanche era eu. Vi em seus olhos a vontade de saciar um desejo, o desejo primário que rege qualquer ser, humano ou não, a necessidade mais básica e primitiva: a fome. Mas por que justamente eu tinha que ser o lanchinho daquele bicho? Ele não poderia simplesmente se alimentar de maçãs? Entretanto, se eu não corresse o mais rápido que conseguisse, provavelmente não sairia dali com vida. Corremos como uma presa que luta incansavelmente pela vida e, por vários momentos, achamos que não iríamos conseguir. Por fim, chegamos a uma escada, que levava para liberdade, pensávamos nós. À medida que descíamos os degraus ouvíamos o som de uma garoa fina e um barulho que parecia uma multidão, algo que nós nem sequer sonhávamos o que poderia ser. Chegamos enfim à liberdade, deixamos a fera para trás, mas, ao sairmos do shopping, vimos uma verdadeira multidão vinda de encontro a ele. De início não entendemos bem o que aquilo significava até olharmos para os rostos transfigurados, as pessoas queimando. Aquela garoa fina que inicialmente achávamos que iria lavar as nossas almas era na verdade um tipo de chuva ácida e o único abrigo naquele momento era a toca das feras.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Hoje eu acordei com vontade de ser eu. De não dar bom dia pra ninguém, de não fazer piada. De ficar quieta no meu canto, assim meio de luto, com olho aguado. Sem ninguém perguntar "o que foi?", e eu ter que responder que não foi nada. Hoje eu queria ficar assim, aguada, num canto. E por que não chorar um pouquinho? Nós vivemos numa cultura de felicidade tão xiita, que qualquer manifestação de “tristeza” é quase um crime. 
Eu quero um amor felino e ferino. Um amor de verdade, sem cavalo branco, sem príncipe, sem nada ideal, só o acaso, um bom drink... Mas se amar é tão bom por que ter apenas um amor pra vida toda? Que sejam vários, que multipliquem e sobreponham. Se amor é doação eu quero me doar MUITO.  

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O início



Diante da minha falta do que fazer junto à vontade de me comunicar, resolvi escrever o que antes eu tentava contar e ninguém tinha paciência de ouvir. Portanto, agora escrevo para quem quiser ler.