Arrumei a casa, lavei a
louça bati um bolo. Preenchi o meu tempo e a dor não passou. Percebi que o que
faltava preencher era espaço e não tempo.
Esse é mais complicado, mais de-li-ca-do como uma boneca de porcelana,
que, ao se quebrar, por mais que se emende, sempre ficarão cicatrizes. Queria
uma cicatriz agora, queria um sentido, algo que valesse a pena, algo no que
acreditar, mas tudo perdeu o sentido, se sentido houve algum dia. Continuar se
tornou uma palavra vazia e por mais sinônimos que eu invente não consigo
trazê-la de volta.
Vou falando, repetindo,
criando vícios, lavo, passo, limpo, faço as unhas o cabelo e tudo continua
igual. Tento ler um livro, assistir a um filme, rir alto de qualquer coisa, mas
tudo continua igual. Os truques antigos que antes eram tão eficazes já não têm
significado nenhum. Os versos que antes tanto me distraiam, hoje são palavras
cada vez mais vazias. Pintei as unhas de verde (esperança, pensei), vai ver
representa alguma coisa. E no meio do turbilhão também conhecido como o olho do
furacão, tudo para. A vida para e, no silêncio, tento escutar a lembrança de
quem eu fui um dia. Ideais, causas, motivos para lutar por algo maior, mas o
sentido se perdeu com o tempo e, pragmática e positiva continuo andando, com as
unhas pintadas de verde na esperança de ter esperança de novo algum dia, se é
que algum dia houve.
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