domingo, 27 de julho de 2014

Geada

Hoje geou, por dentro e por fora. Não foi a primeira vez, mas sinto que pode ser a última. Quero que seja a última...
Tudo tão sem significado para alguns, nunca entenderam o que ficava subentendido, às vezes pagamos pelo que deixamos de dizer, mas não deixamos de sentir...
Sentir... Por vezes tão inesperado...
Sempre quis pouco, mas um pouco de verdade, um pouco inteiro, sabe aquele meio copo de whisky, só que whisky de primeira? Whisky de primeira não dá ressaca. Acho que é isso, estou com uma ressaca mal curada de meio copo de whisky vagabundo. 


quarta-feira, 18 de junho de 2014

34...

É, hoje seriam 34...
Mas não te permitiram, não nos permitiram.
Sempre acabam levando uma parte boa da gente...
Hoje queria que fosse só mais uma comemoração, talvez um bolo, uma festa, uma farra, talvez a gente nem se visse... Mas estar lá faz toda a diferença.
É meu irmão, não te permitiram ser a coisa boa que você era, não te permitiram muita coisa... Não sei como poderia ter sido. Nos nossos “e se” mágicos, o céu poderia ser verde e você poderia estar por aqui agora. Sinto de uma forma esquisita que alguma coisas mudam a gente para sempre, racham a gente de tal forma que é como se nem doesse... Posso culpar o estado, um deus qualquer, a falta de justiça desse país, mas na real, nada disso vai mudar o fato de você não ter podido ver e viver uma série de coisas boas e ruins que a vida poderia ter te oferecido.
A gente sempre acha que poderia ter feito alguma coisa, ter feito mais, mas isso tudo só torna a coisa toda pior.
Portanto, esse desabafo só serve para mim, para minhas culpas, meus ressentimentos, minha sensação de impotência. Nesses sete anos nós simplesmente continuamos. Nada foi feito, nem justiça, nem vingança. Talvez tenhamos tendado esquecer lembrando. E se lembrar faz alguma diferença, continuarei lembrando... Agora com a minha bússola, meu mapa e a certeza que só temos uma vaga ilusão de tudo isso.

domingo, 9 de março de 2014

Na sacada

Ando sofrendo de lonjuras. 
Não que seja novidade, nem especial. 
Sei que meu problema é absolutamente comum. 
Já vi muitos se curarem e outros tantos morrerem. 
Assim a vida segue.
O que me falta é um gosto de mar, um gosto de amar. 
O querer perto é sempre o pior inimigo, ele te saliva e te faz palpitar enquanto te lembra do que é impossível ter. 
Não, não estamos falando de posse, ter não significa tirar do outro, excluir possibilidades. Aqui, ter significa somar, em todas as suas mais diversas formas. 
Em meio a esses enjoos de além mar, ando procurando em minhas garrafas vazias, um pergaminho, um mapa, uma bússola, uma vontade. Ando procurando você. Ando tentando encontrar aquela sombra de menino que foi perdida há muito, numa janela levada por um Peter Pan qualquer. 
Ando procurando aquela sombra que deve estar voando por aí até hoje, sem encontrar pouso, sem encontrar paz, sem encontrar aquela minha mão que te esperou por tanto tempo naquela sacada infinita. 
E esperando ao longe, esperando de longe, nos perdemos mais uma vez entre as sombras da janela que começaram a voar. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Hiato

Coloquei um Blues alto, não surtiu efeito. Lembrei que Pink Floyd era uma das suas preferidas. Coloquei no máximo, esperando, quem sabe, silenciar meus infinitos pensamentos que não cansavam de gritar.
É, essa noite não vai ser fácil nem vai acabar rápido. Quase sinto a sua presença, o que só torna tudo ainda mais difícil. Quero muito deixar você ir... Quero te deixar em paz...
Quero ter certeza que fiz tudo possível e então, te deixar. Mas como?
Essas certezas que não temos, esses "e se" tornam esse poço muito mais profundo.
Não tenho ilusões de um retorno, sei que é humanamente impossível, só queria um adeus digno. 
Não é isso que todos nós queremos no fim das contas?
Sempre pensei que de alguma forma foi o melhor para você, mas na verdade é simplesmente mais fácil para mim pensar assim.
Isso não é o melhor para ninguém.
Queria poder fazer algo...
Porque as pessoas são tão podres?
E a essa altura não sei mais se isso é sobre mim ou sobre você, mas com certeza não é sobre nós.
Algumas coisas são tão frágeis que um arranhão pode ser eterno e, quando vemos...
Quebrou...

E um último suspiro foi dado sem que ninguém ouvisse.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Vazios enlatados


Mais uma vez, apelei para o verde, por dentro e por fora, mas, às vezes, a vida joga contra e aquele buraco, aquele vazio que, infelizmente, não pode ser preenchido com gim, reaparece... Às vezes acho que ele nunca sumiu de verdade, só se esconde de quando em vez, esperando o melhor momento para voltar a apertar. Muitas bolas fora, muitas cartas sem baralho e eu no meio disso tudo com um coringa na mão sem saber o que fazer. Deveria ser fácil... 
E eu continuo respirando em meio às trincheiras da minha cabeça. Tudo parece tão claro e breve e eu sequer consigo tocar... É isso. Tem tanto tempo que eu não toco nada de verdade, tem tanto tempo que nada me toca de verdade. 
Migalhas de prazeres enlatados, de dias mal dormidos, de palavras não ditas... Nunca ditas. E, por fim, volto a isso que chamam de sanidade, de lucidez. 
Guardo todos os meus fantasmas num pote de Hellmann's e finjo que está tudo bem. Como sempre esteve. E continuamos fingindo, você, a sua paz, sem deixar ninguém chegar perto, eu, a minha loucura, sem que ninguém queira chegar perto. Ambos intocados, ambos intocáveis, ambos vazios e escuros, sem que ninguém chegue perto.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Memórias


Pensando na véia, botei Alcione, passei por Bethânia e Gonzaguinha, acabou surgindo do nada, deu aquele aperto no peito... Lembrei das nossas conversas, das nossas noites insones na frente da TV, com aquele cafuné displicente. 
Pensei em todas as coisas que eu gostaria de ter dito e, por displicência, acabei por não dizer; pensei que, por displicência, aquele cafuné sempre estaria ali, displicentemente. Aquela mão quase involuntária, mas que sempre soube chegar na hora exata, precisa, sempre um segundo antes do desespero, um segundo antes de tudo desmoronar. As unhas impecáveis, o cabelo arrumado e a eterna certeza de que: "Se há jeito para tudo nessa vida, exceto para morte". 
De ti ficou o bom gosto para tudo que há de bom, a vontade de viver, a certeza de que as coisas sempre podem piorar, portanto, é melhor fazer por onde. E a inegável necessidade de se lutar por aquilo que se quer de verdade, mesmo que você não saiba direito o que é isso. 
De ti ficaram as conversas francas, as birras, o cheiro de feijoada, a inesquecível moqueca de arraia, o som alto na vitrola, a cerveja gelada no domingo, a vontade de conhecer tudo que tiver ao meu alcance e esticar o braço um pouquinho mais para tentar abraçar o mundo e, se, por ventura, não conseguir, não tem problema, sempre se pode tentar de novo. 
Algumas noites insones serão sempre mais difíceis... Aquele displicente cafuné já não está mais lá, não há mais necessidade de se provar quem está certo. Todos nós estivemos redondamente enganados por todo o tempo. Não, não poderemos ser felizes juntos, não aqui, não agora, não nessa vida... 
Juntos jogamos contra! 
Esse Happy Ending do sonho americano está longe, muito longe de ser a nossa verdade. Não, na sua verdade você teve o seu Happy Ending, não o dos filmes, mas o real, o que fazia cada dia ser de alguma forma um pouco "menos pior". Que fez com que tudo à sua volta fosse tão inesquecível. Não, não estamos falando de perfeição. Estamos sem sombra de dúvida falando de coragem, da coragem de alguém que nunca teve medo de se expor, que nunca fingiu ser quem não era. Alguém que acabou por abandonar as máscaras, mesmo que isso significasse usar a mesma todos os dias. 
Estamos falando de alguém que sobretudo continuou. Continuou, contra tudo e contra todos. Alguém que não teve medo de encarar a vida de frente, olhar nos olhos do furacão e ir preparar o almoço, porque, acima de tudo, as pessoas precisam comer. 
Não, nem todas as lembranças são azuis e felizes, porque nem tudo é azul e feliz, mas uma imagem de tudo acaba por se fazer muito clara: a imagem de uma guerreira que fez a todo momento o que foi preciso ser feito. 
Agora, me perco entre os vinis, entre os inúmeros sons da minha memória. Consigo facilmente passear de Stravinsky a Roberto Carlos sem grandes percalços. Por fim, chegamos a mais um começo, só que, agora, sem displicências, sem falsas sensações de eternidade, de constante. Só nos resta o momento que acabou de passar. 


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Continue respirando... Só continue respirando...
O ar vai começar a faltar, aos poucos sua vista vai ficar turva e você vai descobrir que tudo aquilo que te contaram sobre luz, túnel e flashs não passaram de histórias infantis. 
Mas tente, você sempre foi bom nisso, tentar... Tentar, tentar e morrer na praia. Agora vai ser literal, exceto pela praia.
Não precisa alardear, ninguém vai ouvir, poupe seus esforços para a única ação que pode fazer alguma diferença. 
Continue respirando... 
 

Suspensão...


Aquele dia eu pus o pé na estrada e continuei andando, naquele dia eu não olhei para trás.Nada mais importava, todas as expectativas, todos os momentos, todas as dores, todas as angustias... tudo, tudo misturado.


Como se não fosse nada, como se fosse só uma virgula, um momento, aquele caminho que continuou a partir dali, aquele caminho que finalmente começou... Engraçado perceber como era fácil. Como sempre foi fácil. Agora de frente para uma estrada sem grandes curvas e sem ser uma linha reta também. Eu continuo andando... Agora eu não tenho  mais medo, agora eu perdi o medo de caminhar, perdi o medo de correr. Agora, eu perdi o medo de se por acaso eu encontrar um espelho no meio do caminho e ter que me encarar de frente. Porque o agora é o único momento que importa. Eu vim correndo todo esse tempo desesperada, desenfreada, correndo como se soubesse para onde eu ia, mas eu não sabia. Eu vim procurando algo que não estava dentro de mim, eu vim procurando algo que eu só saberia quando eu encontrasse... E finalmente eu encontrei, eu me encontrei, eu encontrei um lugar, eu encontrei um porquê. Eu encontrei tudo aquilo que eu vinha perdendo sem sequer saber que eu tinha. Engraçado olhar para tudo isso e ver o quanto as coisas podem ser fáceis e simples. E fácil e simples não significa que vai dar certo, fácil e simples significa que a gente vai ter que arriscar sim,  e que pode doer que vai ser difícil que talvez a gente caia, mas a vida é assim. Que são esses momentos e são essas curvas essas quedas essas pequenas e grandes feridas que fazem todo o resto valer a pena... E tem valido.Cada respiração, cada sentimento, cada dor tem valido a pena porque agora eu sei que eu estou fazendo por mim. Porque agora não importa o que eu faça eu não estou apenas caminhando... finalmente eu estou seguindo. 



domingo, 5 de janeiro de 2014

Última moeda

No primeiro dia existia uma parede invisível, mas não imaginária, nos separando. Tentei desesperadamente transpô-la, bati com toda minha força, gritei inutilmente, mas nada adiantou. Ela me olhava serena, pedia que eu me acalma-se, entretanto isso era impossível, ela estava ali na minha frente e eu sequer podia tocá-la. Gritei, continuei a esmurrar aquele muro até minhas mãos sangrarem. E ela continuou ali parada com o seu olhar sereno pedindo para que eu me acalma-se. No segundo dia ela apareceu de branco, era festa do mar, todos jogavam suas moedas, suas rosas brancas, não existiam mais barreiras. Ela chegou perto, pediu para que eu ficasse bem, me deu uma moeda e se foi. Prontamente eu joguei minha moeda no mar e fiz um pedido: Volta! O mar esbravejou, Iemanjá entendera, mas não tinha como conceder, era grande demais até para ela. Assim como a minha moeda, ela se fora, afundou pouco a pouco e desde então eu nunca mais joguei uma moeda ao mar.