Abri os olhos,
não para ver, abri os olhos para continuar sentindo, abri os olhos com a
esperança de recobrar a sanidade, a racionalidade, a lucidez. Abri os olhos,
para não abrir o peito, ledo engano, este foi aberto sem que eu percebesse.
Quando percebi que não tinha volta, quis fechá-lo novamente. Quis segurar
aquele fragmento de momento, aquela sensação. Um momento dilatado, recortado,
onde nada mais importava. O presente, um presente. Temos o estranho hábito de querer
que as coisas durem, eu só quero que elas sejam. E se elas serão simplesmente
por aquele instante... quem se importa? O instante é tudo que temos. Enquanto
ele dura, o resto para. E vai parando... vai parando... vai parando... até que
seja esquecido, perdido entre fragmentos de passado e futuro que se sobrepõe
mutuamente, mas que só voltarão a fazer sentido quando o instante, aquele
pequenininho, que as vezes nem percebemos, acabar.
Fico assim,
respirando.... Não foi a última gota que fez transbordar, mas o conjunto de todas
elas, mas quem disse que transbordar é ruim? Sigo cheia, meio lua, meio mar,
esperando quem sabe minguar, transbordar, desaguar. Sigo aguada, sigo o fluxo,
o caminho contrário, sigo querendo e tentando. E nesse momento, percebo o
quanto a confusão se fez presente, se fez latente. Ainda sem um norte, mas no
fundo disso tudo, eu só quero me perder. Em meio a minha caótica rotina, me
perco entre os prazos, entre os pratos, entre tudo aquilo que foi sendo deixado
por fazer, entre o ontem e o amanhã, pois para hoje eu só quero mais um copo d’água.
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